sábado, 18 de julho de 2009

ESCRITOS Nº 32

A PARTEIRA

A velha Emerenciana, não tão velha assim na época, esperava o décimo rebento. E Tio Lulu comentava com o pai, o compadre Querêncio:
- A Bigúvia vai mandar algumas roupinhas.
Ao que o compadre Querêncio retrucava:
- Não precisa. É só uma vez por ano...
E chegou o tão esperado dia. Nas primeiras dores da mulher, Querêncio encilhou o pangaré e, na passagem, parou na casa do compadre Lulu.
- É pra hoje - falou. Vou buscar a parteira.
- Vou junto - falou o outro.
E lá se foram estrada afora, proseando. Era um sábado, à noitinha.
Percorridos alguns quilômetros - as parteiras, lá nos perdidos rincões, nem sempre moram perto, - já ouviram, alegrando o pampa, um ronco da cordeona numa bailante próxima. Nem precisaram combinar. Os matungos dirigiram-se, quase que instintivamente, para o fandango.
- Vamos só dar uma olhada - falou Tio Lulu.
- Não podemos demorar... muito - falou o outro.
Cinco da manhã, dia clareando, seguiram viagem já esquecidos da tarefa. Lá pelas tantas, um grande ajuntamento. Carreira em cancha reta. A programação para o domingo estava feita. Segunda tinha marcação do gado numa fazenda próxima e rolaria um churrasco macanudo. Acabaram arranjando trabalho por alguns dias. Dez, para ser mais exato. Depois veio o açude, para o qual o proprietário precisava reforçar a taipa. E lá estavam os dois novamente, carregando sacos de plástico cheios de terra, para ganhar alguns cobres. A filha do dono era de tirar o chapéu. Vez por outra ia até o açude levar água ou alguma comida. E a dupla ali, babando, esquecida da vida... Depois seguiram adiante, parando aqui e ali, um mundão sem porteiras.
Nessa brincadeira toda, o tempo não parava. Até que certo dia:
- Querêncio! E a parteira?
- Puxa vida! Esqueci. Barbaridade! Vamos lá.
Para encurtar o causo, quando chegaram em casa, o piá completava dois meses. Já queria até engrolar algum papo. A parteira? Claro que veio. E, para não perder a viagem, convidada para madrinha.

ALCIONE SORTICA
Porto Alegre/RS
in: Série "Beira de Açude"
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PROVÉRBIOS:

* A hora mais escura é a que precede o amanhecer. (irlandês)
* Não são as ervas daninhas que matam a boa semente, mas a negligência do camponês. (zen)
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o que as pessoas pensam
sempre acaba tendo um certo peso
quase nunca é certo
o que as pessoas pensam
mas a verdade transparece
quase sempre apenas no que parece
porque o lado inverso da verdade
é o mais fácil de ser visto
o mais prático, o mais previsto
e assim as pessoas são como vitrines
em que vemos nosso próprio reflexo
misturado aos objetos de desejo

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
Contato com a autora:
e-mail: walmordario@ig.com.br
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DAS SALIÊNCIAS...

Criou-se em mim
uma onda de prazer e alegria.
As coisas criadas o seu olhar me trouxe,
era o amor chegando.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Das...
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IDENTIDADE

Pássaros casas
pássaros asas
pássaros cantam
pássaros passam,
o que há de tão igual
em mim?

LARÍ FRANCESCHETTO
Veranópolis/RS
in: Espelho das Águas
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TEMPO & INFÂNCIA

Quanto à infância
foi muito normal:
somente o que estava
ao redor, envelhecia.

JOSE RONALDO VIEGA ALVES
Sant’Ana do Livramento/RS
in: Natureza Móbile
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FRASES:

"Se quer ser amado, ame."
SÊNECA
(Filósofo e Poeta romano)

"O Futuro não será mais o que era."
"Que seria de nós
sem o socorro das coisas que não existem?"
PAUL VALERY
(Poeta francês)


1º DE MAIO - DIA MUNDIAL DO TRABALHO

Criado em 1889 por um Congresso Socialista em París, o Dia Mundial do Trabalho teve a data escolhida em homenagem à greve geral, que aconteceu em 1º de maio de 1886, em Chicago, principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época. Milhões de trabalhadores saíram às ruas para protestar contra as condições de trabalho desumanas que sofriam, querendo a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias.
Houve naquele dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos na cidade. Em represália, aconteceram prisões, pessoas feridas e até mesmo mortas nos confrontos entre os operários e a polícia.

(continua na próxima edição)
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VOCÁBULOS PRÉ-LATINOS

* Fenícios e Cartagineses: suco, mapa, barca.
* Gregos: bolsa, cara, cola, governar, filosofia,
academia, liceu, hora, relógio, alfabeto, teatro,
anjo, apóstolo, bíblia, crisma, diocese.

VOCÁBULOS LATINOS

* Populares: mácula, malha.
* Eruditos: solitário.
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DIA NASCENDO EM TEUS OLHOS

Dormes na tarde breve. Do céu, ave
de plumagem de treva, o vôo etéreo
pousa a noite na terra. E leve, suave,
choca os ovos gorados do mistério.

No leito em que tu dormes, um sidéreo
clarão, que vem de ti, abranda o grave
negror do quarto – este meu céu cinéreo...
E tu brilhas no céu como uma nave!

Ouço o rumor da treva que desliza,
solilóquio da sombra ardendo agora
por vir beber do anelo teu a brisa.

E eu bebo-a, em matinal, branca alegria,
e é noite ainda, sem luar, lá fora,
enquanto nos teus olhos já é dia.

ANDERSON BRAGA HORTA
Brasília/DF
in: 50 Poemas Escolhidos pelo Autor
Edições Galo Branco
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CURIOSIDADE:

Por que a laranja chama laranja e o limão não chama verde?
Laranja vem do árabe "narandja" e o limão vem do persa "laimum". São de origens diferentes.
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O BLUES

(...)
Existem elementos no blues que podem ser encontrados nos diferentes estilos das canções africanas – o timbre vocal, uma certa ambigüidade na harmonia e uma série do que se podiam chamar "modos" rítmicos – ainda que as influências são muito pouco perceptíveis e sutis. A forma mesma do blues, a estrofe com o modelo harmônico repetido, não tem relação com os estilos melódicos dos griots da África do Sul, nem mesmo hoje em dia.
(...)
Por Samuel Charters
in: Mestres do Blues – Vol. I
(continua na próxima edição)
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ESPAÇO DO LEITOR

VISIONÁRIO

Morreram as rosas que plantei
E por elas enamorado
Toda a vida assim fiquei
Escravo de mim, um sonho tombado.

Viver é lutar com a realidade
É ver morrer o amor
É deitar com a saudade
Em um eterno leito de dor.

Outrora o amor me teve
Causando-me grande amargura
Que Deus de mim o amor leve
Deixando apenas ternura.

SERGIO SAGGARD
Bayeux/PB
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TROVA

Tristezas - todos sentimos
vendo a flor despetalar,
nos abraços que não vimos
das pétalas a murchar.

HENNY KROPF
Cantagalo/RJ
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BRINCANDO COM PALAVRAS

Parto e reparto
Em vários pedaços
De fato é fácil
A partir de agora
Vamos fazer um trato
Amor em pedaços.

HAZEL DE SÃO FRANCISCO
São Paulo/SP
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TROVA

Procure não se importar
com alguém a sua frente.
Carrossel pode rodar,
tornar tudo diferente.

APARECIDA MARIANO DE BARROS
Jundiaí/SP
in: Chuva sobre o Canavial

DICAS DE LEITURA:

MEU NOME ERA SUZANA - romance - Djanira Pio - Scortecci - 2009. Este volume completa a trilogia de A Cidade dos Sonhos e Um Canteiro de Margaridas, quando as protagonistas, meninas sonhadoras, tornam-se mulheres maduras em busca do sentido. Narrativa, suave, sutil e delicada, característica da autora.

FLORAIS - haicais e tercetos - Humberto Del Maestro - 2009. Neste livro, o autor já consagrado por sua poesia, apresenta delicados tercetos e haicais com temas referentes a árvores, flores, frutos e plantas agrestes. Quem ama a natureza vai se sentir num delicioso jardim.

ESPIRAL - poesia - Luiz Otávio Oliani - Editora da Palavra - 2009. Neste segundo livro solo, Luiz Otávio Oliani apresenta poemas densos, cuidadosamente precisos, enxutos e profundos. Poesia depurada, plena. Para quem aprecia força e vitalidade, a leitura de Espiral vai deixar a alma mais poética!

LIVROS DE EUNICE MENDES:

*Cerimônia das Flores – Valor: R$ 15,00
*Flores e Frutos – Valor: R$ 15,00
*Sino dos Ventos (Haikais) – Valor: R$ 5,00
*Lua na Janela (Haikais) – Valor: R$ 5,00
*Espaços do Vazio (Haikais) – Valor: R$ 5,00
*Nuvens de Sol – Valor: R$ 10,00
*Sonhares – Valor: R$ 15,00

Contato: Eunice Mendes
e-mail: walmordario@ig.com.br

LIVROS DE WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO:

*Poemas Bluseiros – Valor: R$ 5,00
*Um Poeta na Itália – Valor: R$ 5,00
*A Multiplicação do Nada – Valor: R$ 5,00
*Das... – Valor: R$ 5,00

e-mail: walmordario@ig.com.br

Aceitamos colaborações de poemas e/ou pequenos textos em prosa,
que poderão vir a ser publicados
se estiverem de acordo com o perfil da nossa linha editorial.
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Um comentário:

Sérgio Bernardo disse...

Que grande esteta o Anderson Braga Horta, este soneto publicado no "Escritos" 32 é perfeito! Parabéns ao editor pelo achado, aliás, por toda a edição. Sérgio Bernardo