sábado, 28 de novembro de 2009

ESCRITOS Nº 34

Herbário de Eunice Mendes
20/08/2009

VISITA DE MÉDICO

O velho Dr. Bento era boa criatura, benquisto por todos na pequena cidade. Meio desocupado, gozava de modesto ócio com dignidade, e só tinha um defeito: a mania de fazer visitas. Desde que levantava, bem cedo para ter mais tempo de não fazer nada, dedicava-se à ocupação favorita. Eram visitas rápidas, dessas de médico (quando ainda faziam), entrando por uma porta e saindo por outra. Numa casa engolia o cafezinho, na outra sugava a bomba do mate, na terceira enrolava um cigarrinho. Assim, no correr do dia, eram muitas as visitas feitas, nos lugares mais diferentes e inesperados da cidadezinha.
Tinha, é claro, as casas preferidas, onde aparecia todos os dias. "Ia assinar o ponto" – dizia, bem humorado. Uma de suas vítimas era o Orly Tabelião, onde comparecia diariamente, sem falta, nos momentos mais impróprios.
Cansado daquilo, Orly arquitetou um plano e, numa manhã ensolarada, antes que o velho charlatão fosse para a rua, bateu à porta do casarão onde morava. Surpreso, o Dr. Bento recebeu o visitante com cara cheia de curiosidade, o sorriso forçado aflorando nos lábios. Orly foi entrando, pediu licença para tirar o casaco e colocou sobre a mesa o pacotinho que trazia. Refestelou-se na poltrona mais próxima, esticou as pernas e principiou uma conversa que prometia ser longa.
E assim foi.
Orly Tabelião esmerou-se em descobrir assuntos. Diante do anfitrião desconcertado, fez as perguntas de praxe sobre a saúde e a família, comentou as safras e os preços, rezingou contra a carestia, lembrou os mortos mais recentes e os negócios mais falados. Depois, - sem deixar o outro dizer a, - resvalou para a política municipal, com incursões pela história, desde a República Velha, a campanha pelo voto secreto, os golpes e contragolpes, até a eleição do atual prefeito.
Desconfiado e incrédulo, Dr. Bento não sabia o que fazer. Com olhares ressabiados ao pacotinho largado sobre a mesa, servia chimarrão e escutava, escutava.
Chegada a hora do almoço, o dono da casa não teve jeito e convidou a visita para passar à sala de refeições. Sempre falante, ágil como nunca, Orly não se fez de rogado. Comeu, repetiu, elogiou. Como amigo da casa, até reclamou do cafezinho.
Voltaram às poltronas.
Orly falava, o tempo se arrastava. Dr. Bento cochilava. E ouvia.
A tarde avançava, pesada, quente. Inquieto, o dono da casa mandou servir mais café e reiniciou o mate. Alguns sons estranhos invadiam a sala, enquanto o monólogo posseguia. Desiludido de participar da conversa, Bento se conformou, enterrado na poltrona.
Orly agora abordava a situação internacional, revelando sua preocupação com os conflitos do Oriente Médio.
Até que veio o jantar e depois mais café e mais chimarrão...
Orly Tabelião falava.
Quando a noite se fechou, a sala foi tomada pelo silêncio, os movimentos cessaram nas dependências da casa. A visita reclamou alguma bebida e Bento mandou servir cerveja.
Reanimado, o Tabelião achou novos assuntos.
Nenhum deles agüentava mais. O chimarrão foi encostado, copos e xícaras ficaram largados na mesinha. Tardava a noite, a cidade dormia.
Orly Tabelião fez afinal uma pausa. Levantou e deu alguns passos pela sala. Ansioso, Bento esperava que ele se despedisse.
A visita olhou o relógio.
"É tarde, Bento, muito tarde. Está na hora de dormir."
Em seguida, apanhando o pacotinho da mesa, completou:
"Mande arrumar a cama que eu já trouxe aqui o meu pijama..."
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Nunca mais Orly Tabelião recebeu a visita do Dr. Bento. Quando se encontravam na rua o velho médico se limitava a rápido aceno de saudação.

ENÉAS ATHANÁZIO
Balneário Camboriú/SC
in: Jornal do Enéas nº 22
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do meu lado
só Deus
fica acordado

lá fora
nem os sinos
tocam mais

nem os cães
ladram ao longe
nem o trotar
das charretes
atravessa a noite

tudo é silêncio
tudo é austero
não há sinais

parece que a vida
dorme sem sonhos

EUNICE MENDES
Santos/SP
in: Cerimônia das Flores
Contato com a autora:
e-mail: walmordario@ig.com.br
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DAS CARÍCIAS...

Minha mão percorre teu corpo
como água seguindo o rio.
Encontrando emoções.
Encontrando sentimentos.

WALMOR DARIO SANTOS COLMENERO
São Vicente/SP
in: Das...
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TROVA

Para preservar amores,
guarde um carinhoso afã:
deslize por entre as flores,
como o orvalho da manhã!

FERNANDO VASCONCELOS
Ponta Grossa/PR
in: Gotinhas de Orvalho
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BIOGRAFIA

TERÊNCIO - Publio Terêncio Afer (185a.C.? - 159a.C).

Nasceu na África, vendido como escravo ao senador Terêncio Lucano,
que lhe deu educação e, algum tempo depois, a alforria.
Composta por seis comédias, a obra de Terêncio,
escritas em verso, resistiu a ação do tempo.
São elas: Andria, Hécira, Heautontimoroumenos,
O Eunuco, Formião, Os Adelfos.
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1º DE MAIO
DIA MUNDIAL DO TRABALHO

Surgiram campanhas e mobilizações para maiores salários
e redução de jornada de trabalho.
Explodiram greves em todo mundo industrializado.
Chicago era considerado
um dos principais pólos industrializados norte-americanos,
um dos grandes centros sindicais.
Duas grandes organizações lideravam os trabalhadores:
a AFL (Federação Americana de Trabalho)
e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho).
Essas organizações eram compostas principalmente
por trabalhadores de tendências políticas socialistas,
anarquistas e social-democratas.

(continua na próxima edição)
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CONQUISTAS AMOROSAS

Na minha mocidade tive um amigo metido a conquistador. E só conquistava mulheres bonitas.
A primeira mulher que virou sua cabeça, foi uma loura encantadora. Chamava-se Creusa. Apaixonou-se até pelo nome... Ela nada queria com ele. Cativou-a devagarinho e terminou conseguindo lugar em seu coração. Tornou-se sua esposa. Conviveram dezesseis anos. Depois dela, várias entraram em seu viver.
Mesmo assim, apesar de tantas, jamais pode entendê-las. Dizia:
- São difíceis de ser compreendidas.
A mais recente conquista deu-se há alguns dias atrás.
Casada. Dois filhos. O marido trocou-a por outra. Inconformada, aqui, acolá, chorava pelos cantos da casa tão vazia!
Encontrou-a telefonando.
- Procurando conversar com o marido?
Ela simulou sorrindo. Respondeu silenciosa, apenas fazendo careta.
Ficou dando em cima dela. Botou toda a sedução nela. Foi a mais dura de derrubar.
No dia em que ela estava se chegando, convidou-a para um encontro. Somente não levou um tapa do rosto porque usou da destreza possuidora.
- Olha, estás me achando rapariga? Pensas que por ter sido traída pelo meu marido, eu também vou traí-lo? Estás quadradamente enganado, seu...
Três dias depois, ele recebeu de um garoto, um bilhete dizendo assim:
"Amanhã estarei te esperando às nove horas, em frente ao Correio. Em casa não dá. A vizinhança pode descobrir. Te amo. Tânia."

JOÃO BATISTA SERRA
Caucaia/CE
in: O Patusco nº 88
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FRASES DE VOLTAIRE:

* Um dos méritos da poesia, que muita gente não percebe, é que ela diz mais que a prosa e em menos palavras que a prosa.
* Todas as riquezas do mundo não valem um bom amigo.
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O BLUES

(...)
O "sentimento" harmônico do blues, e de quase toda a música afro-americana, talvez se remonte também a estas raízes. Houve nos primeiros anos de pesquisa sobre o jazz e o blues, um considerável interesse no que se denominou blue notes. Estas eram as notas da escala européia, normalmente a terceira e a sétima, que no blues e no jazz se cantavam e tocavam freqüentemente com um aumento ou descida de tom.
(...)

Por Samuel Charters
in: Mestres do Blues – Vol. I
(continua na próxima edição)
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ESPAÇO DO LEITOR

AO SOM DO MAR

Movimentos
sonoros
embalam
sentimentos

lembram
acordes da alma
na ponta dos dedos

Mãos ou gaivotas
teclado ou firmamento?

Elevam
em asas
ao voo real
dos mistérios
do mar
aos mistérios
do amar.

NEIVA ROSSO DA ROSA PERES
Santa Maria/RS
in: O Ímã da Retina
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MEU PAI

Homem do campo
bandeirante anônimo,
raiz, pedra, chão
por tal esforço erguido
alto, bem alto
quem sabe elevou-se a Deus,
quem sabe?
De um trabalho árduo
de uma paixão dedicada
surge a terra.
Panorama
menina dos olhos seus,
dama,
Ah, recanto de água mansa
aprazível Fazenda
fantasia de criança!
Homem do campo
bandeirante anônimo,
raiz, pedra, chão.

MARIA JOSÉ MENEZES
Vitória/ES
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Clima de inverno.
Idéias frias...
Poema letal.

CECÍLIA FIDELLI
Itanhaém/SP
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DICAS DE LEITURA:

UMA ESTRELA NO AZUL - poemas - Aparecida Mariano de Barros - Ed. In House - 2009. Com 18 livros publicados, Aparecida Mariano nos brinda com este novo volume de seus singelos poemas, haicais e trovas. Linguagem simples e cativante vai encantar os amantes da poesia.

SONETO ANTIGO - poemas - Anderson Braga Horta - Ed. Thesaurus - 2009. O renomado poeta Anderson Braga Horta reúne sonetos solares, românticos, visionários, graves, gaios, de céu e inferno, de acordo com sua sugestiva nomenclatura. Escritos entre 1950 e 2000, os sonetos apresentam dedicado esmero de um dos grandes poetas deste país.
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INFORMAÇÃO IMPORTANTE:

Aceitamos colaborações de poemas e/ou pequenos textos em prosa, que poderão vir a ser publicados se estiverem de acordo com o perfil da nossa linha editorial.
Os textos aqui publicados são de responsabilidade exclusiva de seus autores.
O fanzine impresso pode ser adquirido pelo custo simbólico de R$ 2,00.
Assinatura Anual: R$ 10,00.
Maiores informações entre em contato com o editor:
Walmor Dario Santos Colmenero
Endereço Postal: Pça Nossa Senhora das Graças, 76 apto. 11
CEP.: 11390-090 Vila Valença - São Vicente/SP
Endereço eletrônico: walmordario@ig.com.br
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Um comentário:

Fanzine Episódio Cultural disse...

“IX CONCURSO PLÍNIO MOTTA DE POESIAS”



A Academia Machadense de Letras (Machado-MG / Brasil) comunica a realização em novembro de 2013 de seu IX Concurso de Poesias. As inscrições encerram-se no dia 14 de outubro (2013). Para receber gratuitamente o regulamento em arquivo PDF, entre outras informações, favor entrar em contato através do e-mail: machadocultural@gmail.com



Obs (PS): O tema é livre e aberto a todos de Língua Portuguesa e Espanhola e a taxa de inscrição é de R$5,00 pode ser enviada dentro do envelope.



Favor verificar o recebimento do regulamento em pdf e jpeg. Estarei aqui para novos esclarecimentos. Caso sua poesia seja classificada e você não puder aparecer, a Academia indicará um membro para declamá-la.

O concurso será realizado no dia 09 de novembro, às 20:00hs no Anfiteatro da Prefeitura Municipal de Machado-MG.

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